As origens da ocarina  não são lineais, nem progressivos nem unipolares, pois acompanham a corrente dispersa da mesma humanidade. Diversas fontes enunciam que a ocarina foi inventada por um músico italiano chamado Giuseppe Donatti, mas  se poderia dizer que mais bem ele a patenteou e a popularizou em toda Europa, inclusive dando-lhe um nome, o que usamos comumente ao dominá-lo “Ocarina”, palavra que vem do parecido com o instrumento reinventado por Donatti e a cabeça de uma Oca (ave parecida ao pato). Em torno ao ano de 1868, século XIX, as ocarinas de Donatti se estenderam por toda a Europa e foram tocadas como instrumentos populares nas ruas, sendo muito queridas pelos meninos. Logo as ocarinas foram muito bem adotadas e redesenhadas em vários países de Asia, e nos dias de hoje os games e desenhos animados difundiram a sua existência, gerando de novo uma renovada popularidade.   Mas as origens do que chamamos ocarina são muito mais remotos e dispersos.

Donatti posso se inspirar para criar sua ocarina em algo verdadeiramente próximo ao mesmo. Nas civilizações milenárias da América Central e do Sul, foram criadas o que hoje chamamos comumente de ocarinas. Nestas terras foram achadas pelos arqueólogos uma grande quantidade e variedade de aerófonos (instrumentos de sopro), produzidos em distintas civilizações e em distintas eras, sendo achados aerófonos com milhares de anos de antiguidade que ainda estão em estudo, já que se perdeu o conhecimento de como eram executados e que música podiam tocar. Entre tantos instrumentos de sopro como trompas, apitos, ressonadores, antaras e flautas, foram encontrados também uma grande variedade de ocarinas, elaboradas em cerâmica e compostas de uma ou varias câmaras, embocadura, um canal de insuflação (a fenda pela que se sopra e conduz o vento), um bisel (o fio com que se corta a coluna de vento e gera o som) e diferentes tipos e números de orifícios.

As ocarinas das culturas ancestrais americanas presentam todo tipo de formas, geralmente são de fomas antropomorfas e zoomorfas (representam animais e humanos), tem de uma ou varias câmaras de ressonância, com seus correspondentes canais e biseis, podendo fazer vários sons ao mesmo tempo. A diferença da ocarina europeia e contemporânea as antigas ocarinas americanas não tem um formato constante que se repete em todas, essa forma de “Oca”, podendo adotar todo tipo de formas, que podem ser globulares, tubulares, cônicas, antropomorfas e zoomorfas, con diferentes texturas de sons, e afinações que mudam de uma para a outra. Os povos que elaboravam  estas ocarinas se importavam mais pelos  efeitos que criavam, como os sons da natureza, que por abranger um maior rango de notas e uma afinação padrão . Sua intenção era gerar uma atmosfera sonora para criar diferentes estados emocionais e de consciência, propícios para seus rituais espirituais. Como todo no mundo das antigas culturas pré-hispânicas, as ocarinas formavam parte de sua cosmologia, dos elementos da natureza, da divindade e o espiritual. A ocarina mesma era um ser vivo e consciente.

Na procura dos origens da ocarina , primeiro temos que nos basear nos fundamentos básicos que diferençam uma ocarina de outro instrumento de sopro. Estas tem que estar composta de uma ou varias câmaras fechadas, que  não possa gerar notas mais altas por meio de harmônicos ao soprar com mais força como faz uma flauta. Além disso a ocarina possuem um mecanismo composto de canal de insuflação e bisel para gerar as notas que mudam ao fechar e abrir diferentes furos. Na antiga China, na dinastia Shang foi criado um aerófono chamado Xun, com uns 7 mil anos de antiguidade e  na civilização Chincha no Peru, 700 A.C, foi criado um aerofono muito parecido com o Xun,  chamado Quena Chincha. Os dois aerófonos presentam muitas características em comum, parecidas com a ocarina, os dois instrumentos tem câmara fechada, mas não possuem um canal de insuflação, ao não ter canal não podem ser classificados como Ocarinas, mas poderiam ser seus antecessores.

A aparição da  ocarina pode se remontar aos tempos em que a humanidade descobriu o uso da argila  e domesticou o fogo. A aparição da cerâmica na arqueologia sempre demarca um ponto  muito importante da evolução dos povos associado com a aparição da civilização. Esses povos que descobriram como converter a argila em terracota por meio do fogo, também acharam algo neste material além do uso cotidiano como a vasilha para conter alimentos, acharam a sonoridade que gera a argila cozida. Então de ai para o frente não iriam a faltar todas as possibilidades de criação de instrumentos e sons , havendo uma grande variedade de instrumentos em diferentes partes do mundo que refletem esse acontecimento. Na Nigéria foi inventado o Udu, que bem parece uma vasilha, mas na realidade é um tambor que ao percuti-lo gera o som da cerâmica e o vento. No Peru foram inventadas as vasilhas silvantes, estas geram um assovio por meio da água movimentada dentro delas. Asim mesmo podemos mencionar o Xun, e mais indiretamente, as Quenas, as Antaras, os Silvatos , e a mesma Ocarina.